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As
Orquídeas Francesas
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Professor
Daniel PRAT
é Diretor do programa "Genoma e Evolução
das Plantas Superiores", da Universidade Claude Bernard –
Lyon 1 (França). Presidente da Comissão Científica
da Société Française d’Orchidophilie
(SFO)
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ON:
Em sua palestra, o senhor disse que o número de espécies
descritas vem aumentando há algumas décadas. O senhor
estava se referindo às orquídeas em geral ou somente das
espécies francesas (ou européias)?
DP: O número de espécies aumenta
regularmente há anos, como Philipp Cribb também observou.
Se levarmos em consideração a primeira edição
de 1998 de "Orquídeas da França, Bélgica e
Luxemburgo", obra realizada pela Sociedade Francesa de Orchidofilia,
havia na França 147 táxons repartidos em 129 espécies
e 30 gêneros. A segunda edição que vai ser publicada
nos próximos meses apresenta 171 táxons repartidos em
160 espécies e 27 gêneros. Isso não significa que
o número de espécies biológicas tenha tido um aumento
tão significativo neste período. Na verdade, aumentou
a observação e descrição de táxons
que se assemelham de tal maneira que mesmo os especialistas têm
dificuldades para diferenciar e que estão descritos como espécies
quando, em numerosos casos, seria mais correto descrevê-los como
variedades ou mesmo sub-espécies. Isto falseia os inventários
de biodiversidade e mascara as ameaças de extinção
que pesam sobre certas espécies. Os meus comentários se
referiam, por conseguinte, essencialmente às orquídeas
francesas e européias, a mesma tendência, com menos ênfase,
é observada a nível mundial. Houve
a diminuição de dois gêneros como resultado das
mudanças taxonômicas provocadas pelas filogenias moleculares
que levam a agrupar gêneros.
ON: Quais são os principais gêneros franceses?
DP: Anacamptis, Dactylorhiza, Epipactis,
Neotinea, Ophrys e Orchis que incluem diversas
espécies, algumas com uma área de dispersão bastante
importante e que são freqüentemente observadas. Outros gêneros
têm uma distribuição mais local e são menos
observadas.
ON: Quais são as espécies com maior área de distribuição?
DP: As espécies com uma distribuição
mais ampla são: Anacamptis pyramidalis, Anacamptis morio (=Orchis
morio), Cephalanthera damasonium, Cephalanthera longofolia, Coeloglossum
viride (grande área de distribuição mas bastante
rara), Dactylorhiza incarnata, Dactylorhiza maculata, Epipactis helleborine,
Epipactis palustris (localmente abundante, mas numerosos habitats
desaparecem em função do ressecamento dos pântanos),
Himantoglossum hircinum, Listera ovata, Neotinea ustulata (=Orchis
ustulata), Neottia nidus-avis (grande distribuição
mas habitats pouco abundantes), Ophrys apifera, Ophrys aranifera
(=O. sphegodes), Ophrys araneola, Ophrys insectifera,
Orchis anthropophora (=Aceras anthropophorum), Orchis
mascula, Orchis militaris, Orchis purpurea, Orchis simia, Platanthera
bifolia (grande distribuição
mas habitats pouco densos), Platanthera chlorantha (grande distribuição
mas habitats pouco densos).
ON: Quais são os principais habitats (temperatura média
durante os meses mais frios e mais quentes)?
DP: Nós temos condições ecológicas
variadas na França, uma vez que encontramos orquídeas
ao nível do mar na região mediterrânea até
as áreas de montanhas, nos Alpes a 2.000m de altitude. As temperaturas
médias variam, na região mediterrânea, aproximadamente
de 27ºC no período de mais calor à 15ºC no período
de frio. Na região de planície mais ao norte, as temperaturas
médias variam de 22°C no verão a 10°C no inverno.
Na montanha, varia de 15°C no verão -5°C no inverno.
Estes valores são meramente indicativos, variações
diárias são, algumas vezes, importantes.
ON: Todas as espécies permanecem subterrâneas durante o
inverno?
DP: A maior parte das orquídeas passam
no inverno sem partes aéreas visíveis, no entanto, as
espécies dos gêneros Goodyera e Ophrys
que têm uma grande área de distribuição lançam
as folhas no outono e elas permanecem no inverno. Outras lançam
suas folhas na primavera.
ON: O povo francês é, de uma maneira geral, conscientizado
no que diz respeito à conservação? E qual o papel
exercido pelo governo, existe um programa oficial de conservação?
DP: A proteção das plantas foi instaurada
oficialmente na França por um Decreto Ministerial de 1995. Numerosas
espécies vegetais, entre as quais algumas espécies de
orquídeas, são protegidas: toda coleta é proibida.
Autorizações podem ser concedidas para trabalhos científicos.
Esta proteção é aplicada sobre todo o território
nacional. Proteções da mesma natureza também foram
asseguradas a nível regional. Entre 1986 e 2005, as proteções
asseguradas em cada região francesa foram publicadas, incluindo
os departamentos de além mar, situados em zona tropical, sob
a forma de decreto ministerial. Mais de 100 espécies temperadas
estão assim protegidas seja a nível nacional seja a nível
regional ou , algumas vezes, a nível departamental. As coletas
estão igualmente proibidas nos parques nacionais, não
importando qual o status de proteção da espécie.
A regulamentação é uma coisa mas o comportamento
das pessoas é outra. Os camponeses que possuem espécies
protegidas em seus terrenos têm o direito de revolver a terra
e mudar sua cultura. Assim mesmo os habitats de sapatinho de vênus,
nossa orquídea francesa emblemática podem ser destruídos.
Nós podemos, do mesmo modo, constatar a desaparição
de plantas mesmo nos parques naturais. Certos orquidófilos indelicados
coletam sempre plantas inteiras na natureza, apesar da proibição.
A coleta das flores também acontecem. Um processo foi aberto
e ganho contra as pessoas que arrancam as orquídeas. A regulamentação
abre a possibilidade de uma ação na justiça contra
as pessoas que cometem este delito.
ON: Qual o papel exercido pela sua sociedade nesta questão
ambiental?
DP: A Sociedade
Francesa de Orchidofilia
teve seu papel na definição das listas de espécies
protegidas a nível nacional e, às vezes, também
a nível regional. A proteção das orquídeas
faz parte das atividades da sociedade descritas em seus estatutos. Em
toda exposição que SFO participa, são apresentados
pôsteres sobre a biologia das orquídeas e também
sobre sua proteção de modo a sensibilizar o público
sobre este aspecto tão importante. Nas obras editadas pela sociedade,
como esta sobre "As Orquídeas da França, Bélgica
e Luxemburgo", um capítulo é consagrado à
proteção com as indicações das leis atuais.
Tabelas de todas as espécies protegidas da França são
fornecidas também na obra. As obras de cunho mais regional mencionam
as orquídeas protegidas os territórios em questão.
A proteção é um objetivo difícil e os interesses
econômicos são, freqüentemente, contrários
à proteção. Muitas vezes, apesar das informações
fornecidas pela Sociedade nós não conseguimos, infelizmente,
evitar sua destruição. É um problema de sensibilização
das pessoas e de educação, poucas pessoas desrespeitando
as regras são suficientes para anular o esforço de muitas.
Sensibilizar um público maior nos parece ser um dos melhores
caminhos.
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