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A
forma e função do ginostêmio das orquídeas
européias
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Jean
Claessens e Jacques Kleynen são fotógrafos da
natureza especializados em macro-fotografia extrema. Eles estudam
orquídeas desde há 20 anos. Por volta de l990, passaram
a se interessar pelo estudo do gênero Epipactis fotografando
todas as espécies. Desde então, eles publicam, regularmente,
artigos referentes aos resultados de suas pesquisas de campo,
tais como "Het geslacht Epipactis in de Benelux: bloembiologische
beschrijvingen en soorttypische kenmerken - Eurorchis 3: 5 - 38
(1991)", "Investigations on the autogamy in Ophrys
apifera Hudson. Jber. naturwiss. Ver. Wuppertal 55, 62-77",
" Anmerkungen zur Hybridbildung bei Platanthera bifolia
und P. chlorantha (no prelo) (2005), entre outros.
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ON:
Os senhores são
fotógrafos da natureza especializados em macro-fotografia. O
que veio primeiro: a fotografia ou as orquídeas?
JC & JK: Primeiramente veio a fotografia.
Na Europa, se você é interessado em orquídeas, você,
inevitavelmente, tem que fotografar porque todas as orquídeas
são protegidas por lei e você não pode cultivá-las
numa estufa. Mas o grande charme de pesquisar orquídeas é
estar na natureza e apreciar as belas paisagens e a rica flora dos habitats
de orquídeas.
ON: Há quanto tempo os senhores vêem estudando orquídeas?
JC & JK: Nós temos estudado as orquídeas
desde que 1985, aproximadamente. No início nós queríamos
conhecer todas as espécies de orquídeas e viajamos por
toda a Europa, mas logo nós começamos a ficar mais interessados
nos seus aspectos científicos. Nossas pesquisas sobre o ginostêmio
partiram da curiosidade: nós queríamos saber qual era
a base da classificação e, assim, nós aprendemos
que a morfologia do ginostêmio é (era...) crucial na classificação
da orquídea.
ON:
Há quanto tempo os senhores fazem pesquisas do ginostêmio
das orquídeas européias?
JC & JK: Em 1990, aproximadamente, nós
começamos a ter um interesse especial no gênero Epipactis,
e decidimos fotografar o ginostêmio de todas as espécies
do gênero. A palestra que resultou daquelas pesquisas foi muito
apreciada e nos deu a idéia de fazer o mesmo com todos os gêneros
de orquídeas européias. Em 1995, nós publicamos
um artigo, e mais tarde, em 1997, nós apresentamos nossos resultados
no "Wuppertaler Orchideentagung", um congresso de orquídeas
em Wuppertal. Isto levou algum tempo e treinamento para o domínio
da macro-fotografia extrema, mas é um campo muito fascinante
que permite descobrir aspectos normalmente escondidos da morfologia
da flor.
ON:
Os senhores disseram que a maioria de descrições do ginostêmio
das orquídeas européias foram baseadas em plantas conservadas
no álcool. E a pesquisa que os senhores realizaram?
JC & JK: Como somos os amadores, a maioria
de nossos estudos sobre orquídeas ocorreu durantes nossas férias.
Nós sempre tínhamos o nosso microscópico binocular
e com ele, nós pudemos estudar todos os gêneros de orquídeas
a partir de material fresco.
ON:
Quais são as evidências que os senhores reuniram ao examinar
o material floral fresco no que se refere à morfologia do ginostêmio
e à sua função?
JC & JK: Nós concluímos que
alguns aspectos do ginostêmio só podem ser estudados a
partir de material fresco. Um bom exemplo disto é o desenvolvimento
do ginostêmio de Corallorhiza trifida, que será
discutido em nossa contribuição aos Anais da Conferência
Mundial. Esta abordagem nos também permitiu compreender melhor
o funcionamento exato do ginostêmio, importante para uma completa
compreensão da biologia da polinização. O material
fresco permite, por exemplo, observar a velocidade da dobra caudículo
depois que foi removido da antera. Nossas observações
mostraram, por exemplo, que na Ophrys apifera, uma espécie
autógama, as rajadas do vento que fazem a polínia balançar,
têm um papel vital na polinização (veja do nosso
artigo " Investigações sobre a Autogamia em Ophrys
apifera Hudson. Jber. naturwiss. Ver. Wuppertal 55, 2002)
ON:
Quais os países que a pesquisa abrangeu?
JC & JK: A maioria de países europeus,
algumas espécies são restritas as áreas específicas,
por exemplo Habenaria tridactylites que só pode ser estudada
nas Ilhas Canárias. E para Steveniella satyroides tem-se
que ir à Turquia. Mas este era um dos charmes do nossa pesquisa:
nós conhecemos muitos países com sua flora orquidácea
própria.
ON:
Quais os gêneros europeus os senhores pesquisaram além
Cephalanthera, Corallorhiza, Epipogium e Ophrys?
JC & JK: Nós estudamos todos os gêneros
europeus de orquídeas, ou seja 36 gêneros se considerarmos
a "antiga" classificação. Ainda que, hoje em
dia, alguns gêneros tenham sido (re) unificados, nós tivemos
que estudá-los por nós mesmo no sentido de formar nossa
opinião sobre o gênero. Atualmente, nos estamos trabalhando
na publicação de todos os gêneros de orquídeas
européias e nós esperamos concluí-la no final de
2006.
ON:
Os senhores devem ter visitado muitos habitats para concluir o trabalho.
O que poderiam falar sobre suas características?
JC & JK: Na Europa, só espécies
terrestres são encontradas e a maioria das orquídeas européias
pode ser encontrada em terrenos calcáreos. Muitas de nossas pesquisas
foram feitas no sul de Europa, França, Itália e Espanha.
Nesses países, há grandes áreas calcáreas
ainda têm ainda uma flora razoavelmente intocada, embora a influência
do homem seja onipresente. Muitas orquídeas dependem das atividades
humanas, sobretudo o pasto com carneiro, que mantêm a paisagem
aberta fornecendo assim lugares apropriados ao crescimento de muitas
orquídeas. Nas regiões densamente povoadas como, por exemplo,
a Holanda, os locais de crescimento de orquídeas são restringidos,
em sua maior parte às reservas naturais.
ON:
Na literatura, há controvérsias sobre os dados referentes
ao número de espécies que ocorrem em Europa. Qual é
a conclusão dos senhores sobre isto?
JC & JK: Em Europa, há uma grande desvalorização
do conceito de espécie. devido aos modernos meios de transporte,
o orquidófilo viaja muito e pode visitar muitos habitats de orquídeas
que mostram a variabilidade das espécies e dos genros. Mas há
uma tendência a se dar muita importância às pequenas
diferenças, ignorando a variabilidade. Isto resulta em uma inundação
contínua da "espécie nova". A todos os táxons
"novos" é dada uma categoria específica, tornando-se
assim muito difícil fazer a correlação entre eles.
Isto conduz a mistura de espécies, que necessita urgentemente
uma revisão completa, em nossa opinião a maioria das espécies
novas terminará em sinônimo.
ON:
Quais são as orquídeas de maior dispersão na Europa?
JC & JK: Orchis e Ophrys são
os gêneros com maior dispersão.
ON:
O que os senhores poderiam nos falar sobre das orquídeas na Europa?
JC & JK: Em geral, as orquídeas são
bem protegidas pela lei, e há uma boa consciência da importância
das orquídeas como indicadores de um ambiente sadio. Infelizmente,
na política o ambiente não mais o tópico mais importante;
a recessão é a primeira prioridade, e assim a conservação
da natureza não é mais tão importante para o governo
quanto já foi.
ON: Muito obrigada, Jean Claessens e Jacques Kleynen!
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Cephalanthera
rubra
ginostêmio
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Corallorhiza
trifida
flor
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Corallorhiza
trifida
ginostêmio
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Epipogium
aphyllum flor
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Epipogium
aphyllum ginostêmio
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Ophrys
apifera flor
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Ophrys
apifera
ginostêmio
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Fotos:
Jean Claessens e Jacques Kleynen
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