ON: Dr. Günter
Gerlach, há quanto tempo o senhor vem estudado as orquídeas,
principalmente, suas fragrâncias e sua polinização?
GG: Eu comecei como cultivador da orquídea
em 1979, no Jardim Botânico de Heidelberg, na Alemanha onde trabalhei
neste cargo por 2 anos e depois estudei biologia na mesma universidade.
Assim eu posso dizer que eu estou estudando orquídeas há
mais de 25 anos. Minhas investigações da fragrância
começaram com minha tese de doutorado, há quase 20 anos.
Pesquisar a biologia da polinização foi a etapa conseqüente
imediatamente após ter obtido os primeiros resultados positivos
na pesquisa de fragrância.
ON: Sua palestra versou sobre a "polinização e as
fragrâncias na tribo Maxillarieae". O senhor poderia
desenvolver um pouco esta questão e também nos dizer quais
as subtribos circunscritas nesta tribo?
GG: Na tribo Maxillarieae estão
incluídas as subtribos (segundo Dressler 1993): Cryptarrheninae,
Zygopetalinae, Lycastinae, Maxillariinae, Stanhopeinae, Telipogoninae,
Ornithocephalinae, Oncidiinae, mais de 2500 orquídeas neo-tropicais.
As espécies dentro desta tribo pertencem a síndromes diferentes
de polinização que significa que usam classes diferentes
de polinizador (abelhas fêmeas, abelhas masculinas, moscas) fazendo
apelo ao seu respectivo comportamento. A comunicação entre
as flores e seus polinizadores em muitos casos é efetuada pelas
fragrâncias florais.
ON: Todas as
espécies incluídas possuem perfume?
GG: Não, há muitos gêneros
e espécies sem uma fragrância floral perceptível.
O perfume floral é sempre uma informação para o
respectivo polinizador, assim como há a forma e a cor. Os perfumes
das flores podem ser muito fortes especialmente nas espécies
que pertencem à síndrome do perfume floral, que significa
que os polinizadores são atraídos e recompensados pelos
componentes da fragrância. Só neste caso, as abelhas masculinas
coletam os componentes da fragrância. Dentro da tribo Maxillarieae,
diferentes sistemas de polinização estão envolvidos,
existem flores oferecendo do perfume, flores oferecendo óleo,
e muitas com sistemas enganosos de polinização.
ON: Quando o
senhor disse que os sistemas de polinização na Tribo
Maxillarieae são, alguns deles, recompensadores e outros
são enganosos, o que o senhor quis dizer exatamente com esta
afirmativa?
GG: Os sistemas recompensadores de polinização
oferecem diferentes formas de recompensa a seus polinizadores. As recompensas
mais comuns são o néctar ou o pólen. Nos orquídeas,
o pólen não está disponível por causa da
polínea que resultaria em uma perda completa do pólen
e interrupção do sistema de polinização.
As orquídeas que oferecem recompensas como o néctar, o
óleo, os lugares para dormir e os perfumes. As enganosas não
oferecem coisa alguma. Os polinizadores são iludidos pelas flores
que têm as cores, formas ou fragrâncias similares às
recompensadoras. Em flores sexualmente enganosas, as abelhas masculinas
são iludidas pelas flores que têm a aparência de
suas fêmeas. Assim o macho começa a copulação
com a flor levando a cabo a polinização.
ON: Então
as espécies desta Tribo podem ter uma espécie de néctar?
GG: Somente poucas espécies dentro da Tribo
Maxillarieae têm néctar, muitas espécies
possuem outros sistemas de polinização.
ON: Por que as
fragrâncias servem para selecionar a espécie de abelha?
GG: Normalmente as fragrâncias servem como
um guia à flor que o polinizador se lembra de uma visita precedente.
Entretanto, na síndrome do perfume floral, as abelhas Euglossine
são muito seletivas em sua escolha da fragrância. Assim
existe uma isolação eficaz entre as plantas pertencentes
a esta síndrome e que ocorrem juntas.
ON: Por falar
nesta isolução, o senhor também afirmou que as
abelhas são tão especiais em suas preferências que
isto resulta em uma efetiva barreira contra a hibridação.
Como isto funciona exatamente?
GG: Até agora, nós não compreendemos
como funciona, porque nós não sabemos se as abelhas respectivas
não percebem ou não gostam do aroma especial. Isto quer
dizer que até agora nós não sabemos se seletividade
corresponde à falta dos receptores na antena das abelhas ou em
conexões inibitórias no cérebro.
ON: Quando as
espécies são cruzadas artificialmente, qual o resultado
da fragrância?
GG: Nós só investigamos alguns poucos
híbridos artificiais. Num cruzamento de duas espécies
de Coryanthes, a composição da fragrância
era intermediária.
ON: Fragrâncias
diferentes das flores são suficientes para distinguir as espécies
mesmo quando são muito similares? Que tipo de informações
a fragrância pode fornecer? Elas trazem indícios para a
taxonomia da espécie mas é a falha no nível genérico?
GG: A composição da fragrância
das flores pertencentes à síndrome do perfume floral é,
para mim, uma característica muito boa para distinguir a espécie
dentro de um gênero. Infelizmente esta informação
é perdida quando as flores estão conservadas (no líquido
ou em exsicata) nos herbários. Deste modo, esta informação
é de ajuda limitada para a taxonomia. A nível genérico
falha porque nós encontramos o mesmo padrão de fragrância
em gêneros diferentes. É muito provável que, nestes
casos e quando plantas diferentes ocorrem juntas, ambas as espécies
sejam polinizadas pela mesma espécie da abelha. Isto não
resulta em um híbrido inter-genérico por causa da posição
da respectiva polínea no corpo das abelhas.
ON: Dentro desta
tribo, quais são os gêneros e espécies mais perfumados?
GG: Dentro da Tribo, nós temos muitas espécies
de diferentes gêneros em diferentes subtribos que possuem um odor
intenso. Muitas espécies de Stanhopea e Coryanthes
estão entre estas plantas com perfume intenso mas também
enconramos Anguloas, Trevorias, Cirrhaeas, Houlletias. Algumas delas
como Stanhopea platyceras, Houlletia lowiana e Houlletia sanderi
têm realmente perfumes desagradáveis.
|
É
expressamente proibido qualquer tipo de uso, de qualquer material
deste site (texto, fotos, imagens, lay-out e outros), sem a
expressa autorização de seus autores.
|
