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(continuação) |
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ON:
Vocês publicaram a revisão de Habenaria - A Review of Habenaria
(Orchidaceae) in Pabst and Dungs's Orchidaceae Brasilienses] - em Lindleyana
17(2), em 2002. Um trabalho muito interessante que se torna mais importante
se pensarmos na escassez de literatura. Vocês poderiam falar um
pouco sobre o desenvolvimento e método daquele trabalho? |
![]() Cyrtopodium linearifolium |
ON:
Vocês não se limitaram à este grupo, vocês realizaram
trabalhos também com o Cyrtopodium tanto é que descreveram
duas novas espécies: Cyrtopodium latifolium e Cyrtopodium linearifolium. Estas plantas já eram conhecidas ou vocês as trouxeram não só à luz da ciência mas também ao conhecimento delas em si? |
![]() Cyrtopodium latifolium |
LUCIANO:
Cyrtopodium é um dos gêneros em que trabalhamos com mais
afinco. A nossa região é propícia para o gênero
e existem, no DF, pelo menos 18 espécies. É natural que,
depois de algum tempo de estudo, os interessados acumulem informações
pertinentes às espécies em relação ao ambiente,
partes vegetativas e reprodutivas, época de floração,
etc, de tal forma que cada espécie fique muito bem caracterizada.
Então, se ao examinarmos qualquer material relativo ao gênero e, se as informações que estão na nossa frente não coincidem com a caracterização pré-estabelecida, esse fato passa a ser um bom indicativo de uma possível “novidade”. Entretanto, não basta ser apenas uma novidade para o interessado e sim uma novidade para a ciência, para que seja descrita como espécie nova. Por esse motivo, o trabalho de qualquer taxonomista deve ser, acima de tudo, criterioso. Deve-se ter um bom entendimento do gênero como um todo e bibliografia atualizada para que seja efetuada uma boa revisão, antes de pensarmos em publicar uma espécie nova. Existem várias fontes para se detectar “novidades”, entre elas: sociedades de orquidófilos, expedições no campo e exame de materiais de herbário. Muitos botânicos e estudantes de botânica têm a prática de coletar tudo que encontram, mesmo que não identifiquem corretamente o que estão coletando. Nesse sentido, muitos materiais de herbário representam espécies novas que nunca foram descritas. |
Em
1990, em uma de nossas saídas de campo vimos, pela primeira vez,
o Cyrtopodium latifolium. Mais tarde, durante a revisão
de bibliografia e de materiais de herbário, percebemos que a mesma
espécie havia sido coletada por Hoehne, em Mato Grosso, em 1908.
Porém Hoehne se equivocou identificando-a como C. vernum
e não percebeu que se tratava de uma espécie nova. Do mesmo
modo, em 1999, vimos pela primeira vez o C. linearifolium. Mais
tarde detectamos que Irwin & Soderstrom já haviam coletado
a mesma planta em 1964, em Jataí. Portanto, aí estão
dois exemplos de plantas que já eram, de certo modo, conhecidas
por alguns, mas não para a ciência. JOÃO: Em relação a Cyrtopodium estamos trabalhando na descrição de novos táxons e numa revisão do gênero. |
![]() Cyrtopodium latifolium |
Em colaboração com o pesquisador venezuelano Gustavo Romero,
atual curador do Oakes Ames Orchid Herbarium, preparamos um “checklist”
do gênero, e que deverá ser submetido para publicação
no segundo semestre de 2004. Até o momento já descrevemos
as duas espécies citadas e há mais alguns táxons
em processo de descrição. Pelos nossos dados são
hoje conhecidos 28 táxons de Cyrtopodium no Cerrado, 36 no Brasil
e o total de 45 no gênero, todos restritos ao continente americano.
Tanto C. latifolium como C. linearifolium já haviam
sido coletados por outros coletores antes de nós. Cyrtopodium latifolium,
por exemplo, foi coletado pela primeira vez em 1908 por Hoehne em Mato
Grosso e C. linearifolium por H.S. Irwin em 1964. Entretanto, nos
dois casos os materiais coletados foram identificados erradamente e confundidos
com outras espécies já conhecidas, o que impediu na ocasião
o seu reconhecimento como espécies novas. Do mesmo modo, Cyrtopodium
fowliei, descrito em 1995, foi coletado pela primeira vez entre 1835
e 1839. Até onde foi possível verificar, todas as espécies
novas de Cyrtopodium descritas nos últimos anos para o Brasil já
haviam sido coletadas anteriormente, ou seja, em nenhum dos casos o material
tipo corresponde à primeira coleta conhecida da espécie.
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![]() Cyrtopodium blanchetii |
![]() Cyrtopodium poecilum |
![]() Cyrtopodium latifolium (habitat) |
ON:
Qual a característica do habitat destas espécies? LUCIANO: C. latifolium vegeta em campo sujo, em solos profundos. C. linearifolium vegeta em campo limpo, em solo raso, pedregoso. |
ON: Para terminar,
quais as novidades que podemos esperar para breve em termos de novas espécies
e suas publicações? JOÃO: Pelo menos três, cujas fotografias estamos apresentando aqui: Habenaria pabstii, Bulbophyllum ciluliae e Cyrtopodium lamellaticallosum, que serão publicadas até o final do ano pois já foram aceitas nas revistas especializadas. |
![]() Habenaria pabstii |
![]() Bulbophyllum ciluliae-inflorescência |
![]() Bulbophyllum ciluliae-flor |
![]() Cyrtopodium lamellaticallosum |
| Comentários sobre as fotos |
![]() | Habenaria
distans Conhecida do Brasil por apenas três coletas. A única população conhecida para a espécie no DF, mostrada na foto, já não existe mais devido a extração de calcário no local. |
![]() | Bulbophyllum
celuliae Espécie nova em processo de descrição. Ocorre na região nuclear do bioma cerrado. Estas são as primeiras imagens divulgadas da espécie. |
![]() | Cyrtopodium
latifolium |
![]() | Habenaria
pabstii Espécie nova descrita no final do ano passado. A espécie é de ocorrência restrita a região nuclear do bioma cerrado. As flores estão as maiores no gênero. |
![]() | Habenaria
pungens Esta espécie difere da grande maioria das outras espécies no gênero pelas flores não ressupinadas. Até onde sabemos, esta é a primeira vez que fotos desta espécie são divulgadas a um publico maior. |
| Cyrtopodium
linearifolium
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Notostheles
acianthiformis Espécie terrestre extremamente rara, conhecida apenas de algumas poucas coletas de Minas Gerais, Goiás e DF. Esta é possivelmente a primeira vez que fotos desta espécie são divulgadas a um publico maior. [Sinonyms: Pelexia acianthiformis Rchb. f. & Warm. and Stenorrhynchos acianthiformis (Rchb. f. & Warm.) Cogn.] |
![]() | Lyroglossa
bradei Espécie terrestre que cresce em cerrados secos. As flores têm um forte perfume cítrico. Até onde sabemos, esta é a primeira vez que fotos desta espécie são divulgadas a um publico maior. |
![]() | Sarcoglottis
uliginosa Espécie terrestre de brejos e campos úmidos. |
![]() | Habenaria
leucosantha Espécie terrestre de brejos e campos úmidos. Às vezes aparece em grande número, formando conjuntos floridos de rara beleza. |
![]() | Habenaria
lavrensis Espécie terrestre de campos secos. O nome da espécie é uma referência a cidade de Lavras, onde foi coletada pela primeira vez. |
![]() | Cyrtopodium
lamellaticallosum Espécie nova em processo de descrição, descoberta através do exame de material herborizado. Ocorre em campos rupestres na parte central de Minas Gerais. Esta é a primeira imagem divulgada da espécie. |
| Fotos: João A. N. Batista |
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