![]() |
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ON: Depreende-se de seu trabalho que as restingas no Espírito Santo não são uniformes entre elas mesmas. A restinga do norte é completamente diferente da restinga do sul e a e relação restinga/interior, ela foi trabalhada também? Cláudio: As duas restingas são diferentes. Eu só consegui inferir sobre isto porque eu não colhi dados para mostrar a relação das restingas e o interior. Eu só pretendia mostrar como a distribuição de plantas no interior da restinga. Quando eu percebi a possibilidade de fazer a análise nesta direção, eu só pude fazer isto por inferência porque eu só percebi isto depois de coletar as informações. Agora vou testar isto e vou pegar uma área maior, esta tal floresta de tabuleiro que começa do Rio Doce e vai até Salvador, Floresta Atlântica de encosta daqui que vai para São Paulo e tudo o mais. Como eu não quero fazer tantas coisas para viver mais anos, eu vou parar no Rio de Janeiro. Mas eu pego duas porções de tamanho similar com os ecossistemas internos bem similares. E agora eu vou fazer uma análise para comparar as plantas da restinga com as das matas no interior. ON: Eu estava vendo no seu trabalho que o gênero com mais espécies que você encontrou foi o Epidendrum com 7, depois o Pleurothallis com 6, o Catasetum com 4 , a Habenaria com 4, a Cattleya com 3, o Cyrtopodium com 3, o Oncidium com 3, a Prescottia, a Sobralia .... Cláudio:
E vinte e tantos gêneros com uma espécie só. Isto é
um negócio interessante que demonstra muito bem que a restinga não
é um ecossistema antigo, que não ocorreu tanto especiação,
não houve o surgimento de muitas espécies na restinga. O que
caiu, viveu, ficou. Então tem este monte de gêneros com 2,
3, 4 espécies. Não há Pleurothallis como na
Mata Atlântica, onde eu posso fazer uma lista de 30 Pleurothallis
num lugar. Pleurothallis são 6, Epidendrum são
7. Não tem um ambiente que evoluiu com o Pleurothallis. A
Mata Atlântica e o Pleurothallis estão intimamente ligados.
A restinga e o Pleurothallis, não. O Pleurothallis
que caiu, viveu, ficou, então, eu tenho muitos gêneros com
poucas espécies em cada um. Isto demonstra um ecossistema novo e
um ecossistema sem espécie endêmica. Por que? Porque ninguém
nasceu na restinga. Eles chegaram à restinga e são muito novas.
Devem existir pouquíssimas espécies restritas à restinga.
Cláudio:
Porque minha tese acabou não discutindo a taxonomia. Lá
no começo, acabei fugindo para fazer uma florística, não
uma floristíca taxonômica ou discutir a taxonomia de grupo.
Como tem-se que adotar uma nomenclatura, adotei Beadlea, adotei
Sophronitis. |
| Cláudio:
Eu concordo que este grupo está mal arrumado e que a opção
do momento pode ser Sophronitis. É uma estratégia muito
boa usar Sophronitis, principalmente para os dados de conservação.
Eu quero chamar a atenção para o fato de que numa lista de espécies ameaçadas, os nomes podem mudar. Eu chamo atenção para isto, pois é um nome que pode se apresentar para venda de outra forma, mas a espécie continua ameaçada. Valeu-me muito usar este nome. Eu adotei. Pode-se usar a modificação nomenclaturalcomo vantagem. |
![]() Sophronitis cernua |
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ON: Você pode mudar o nome de uma espécie ameaçada, mas ela não deixa de ser ameaçada. Cláudio:
Não, ela continua sendo. O ente biológico continua sendo,
o nome é que mudou. ON: Assim você adotou Beadlea? Cláudio: Então eu acabei adotando Beadlea e eu gosto. ON: E as outras espécies, também seriam é Beadlea? Cláudio:
Não. Tem outras modificações.
ON: Já é outra coisa, não é? Cláudio: A melhoria da espécie pelo cultivo pode ser que traga um desprezo pela planta do mato. Eu torço todo dia para isto. Mas existe a outra questão, que é ter o diferente. Aquela planta que está sendo reproduzida pelo Wladyslaw, que é linda, todo mundo pode comprar, mas a planta do mato, não. Isto está acontecendo e me desagrada muito, mas eu dei muita palestra para aquele pessoal da sociedade de lá e na última palestra que vi do Alex, que é filho do Wladyslaw, fiquei muito satisfeito porque plantei uma sementezinha. Ele acha que, hoje, com o suporte que temos da tecnologia e de tantas plantas que já existem em cultivo, ninguém precisa mais catar planta no mato. Ele mostrou duas fotos destas plantas, a planta do mato e a planta selecionada. A Cattleya loddigesii virou uma bola, a planta do mato então... Vai pegar aquilo no mato, feioso, não é? Mas pode ser sempre um albino, ou seja, pode ser uma plantinha doente, não é? ON: É o que eu falo, orquidofilia é um grande circo dos horrores. Cláudio: As grandes doenças, os defeitos são vistos como diferenças. Mais do que isto, são vistos como raridades. ON: E são reproduzidos. Fica reproduzida aquela deformação. Cláudio: Cattleya schilleriana tri-labelo, do Roberto Kaustky, é uma defeituosa. |
| ON: Em sua tese, você dá a Bc. fregoniana como sinônimo da Bc. Tramandahy, mas esta é o cruzamento de Cattleya leopoldii com Brassavola tuberculata e a primeira é Cattleya guttata com Brassavola tuberculata |
.![]() Brassavola tuberculata |
+
|
![]() Cattleya guttata |
=
|
![]() Brassocattleya tramandahy |
| Cláudio: Quem disse que eu não acho que Cattleya leopoldii e C. guttata não são a mesma coisa? A partir do momento que eu encare Cattleya leopoldii e C. guttata como uma espécie só, este híbrido não se estabelece porque ele foi feito com a mesma espécie. |
![]() |
. O que me chama atenção é o seguinte: qual é a distribuição conhecida de C. leopoldii? Santa Catarina, Rio Grande do Sul, ali e sul da Bahia. E a da C. guttata? ON:
Do Rio Grande do Sul até Pernambuco. |
| A
planta que ocorre na Bahia e a que ocorre no Rio Grande do Sul não
podem se cruzar, concorda? Planta não pega avião nem ônibus. Mas o gens daqui pode chegar aqui, não pode? E se eu pegar estas duas plantas colocar em cultivo aqui, eu posso fazer um cruzamento, não posso? Isto significa ser de uma mesma espécie. A planta ao longo de sua distribuição tem a capacidade de se reproduzir. Isto se chama norma de reação, você pega a planta, tira-a de seu habitat, ela consegue sobreviver e garantir sua reprodução mesmo quando cruzadas, intercruzadas ao longo de sua distribuição ou ao longo de seus extremos. Aí se viu o seguinte: que algumas plantas não conseguiam se reproduzir com os seus extremos. Os extremos de distribuição já estavam diferentes do meio e quando você tirava as plantas e colocava-as aqui, elas não se reproduziam, mas o gens daqui chega aqui? Chega, porque elas conseguem se reproduzir com as da Bahia, do Espírito Santo, do Rio de Janeiro, de São Paulo, de Santa Catarina, do Paraná, do Rio Grande do Sul. Não estava na hora de separar estas duas coisas em espécies diferentes. A leopoldii pode simplesmente estar nos extremos da distribuição da guttata. ON: Eu confesso que olho as duas e fico na maior dúvida. Cláudio: Eu também, principalmente na área de restinga mais bonita que eu conheço do Brasil, que é a foz do Rio Doce. Cattleya guttata com pinta, sem pinta, amarela, verde, labelo largo, estreito, cor de rosa, avermelhado, labelo meio aberto, meio fechado. Já vi muita planta no Espírito Santo. Cattleya guttata é muito fácil de ver quando entra em flor, todas dão flor. Ela é abundantemente bem distribuída onde ocorre. Onde tem Cattleya guttata, tem com força. Onde tem Cattleya harrisoniana, tome cuidado, pois pode ser que passe despercebida. Eu considero o mesmo híbrido porque eu considero as duas Cattleyas a mesma coisa. Bc tramandahy foi descrita numa publicação muito esquisita, pode ser que, ainda no futuro, se descubra que nem efetiva é esta publicação, e aí vai valer o nome de Lou Menezes. Mas a Lou Menezes a descreveu porque considera as duas Cattleyas diferentes. Eu optei pelo nome mais antigo porque eu considero as duas Cattleyas iguais. Como espécies diferentes poderiam gerar híbrido exatamente iguais? A Bc tramandahy e a Bc fregoniana são iguais. ON: E os critérios de conservação que você adotou? Cláudio:
São diversos: tamanho da área e amplitude de distribuição,
presença de Unidade de Conservação, distribuição
em formações de restinga, alterações ambientais
em habitats, variação populacional e pressão de coleta,
entre outros. |
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ON: E as plantas mais ameaçadas? Cláudio:
A análise e pontuação dos critérios levou à
constatação de que: |
| As
mais ameaçadas são as plantas mais bonitas, é nítido
isto. São a Cattleya harrisoniana, a Sophronitis ou a Laelia grandis, a Cattleya duvenii, que é um híbrido Cattleya harrisoniana x Cattleya guttata) e como híbrido acaba tendo uma distribuição muito restrita e o Xylobium colleyi, coitado, não sei porque esta planta ficou como criticamente ameaçada. Aliás eu descobri a razão: é o único Xylobium que tem uma folha só. Todo mundo coleta Xylobium colleyi na restinga e como eu já estava trabalhando na restinga, eles vinham no meu ouvido: " - Rapaz, coletei uma Bifrenaria na restinga". A pobre da planta é feia, aliás, é bonitinha, mas por ela ser parecida com a Bifrenaria, ela tem sofrido uma pressão terrível. |
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Hoje
vejo este capítulo de conservação de uma forma muito
mais bonita do que quando eu efetivamente estava trabalhando. Depois que
publicar isto cientificamente, vou tentar traduzir isto para uma forma palatável
por pessoas não biólogas, um negócio que seja mais
fácil de entender, para o leigo em ciências biológicas.
Por exemplo, para o engenheiro orquidófilo que é leigo, assim
como eu sou em engenharia. ON: Você disse que sua vinda para o Jardim Botânico do Rio de Janeiro foi decorrente de um engano, como foi isto? Cláudio:
Nós, do Museu de Biologia Mello Leitão, queríamos que
o Museu fosse transferido do IPHAN - Ministério da Cultura para o
Ministério do Meio Ambiente. A diretoria do Jardim Botânico
do Rio de Janeiro foi lá fazer um relatório para o Ministério
do Meio Ambiente. Foi o Sérgio Bruni que é presidente do Jardim,
o Ney que é o prefeito do Jardim, que hoje é meu chefe e a
Marli que é a chefe da pesquisa. Na época já eram os
chefes destes setores. Antes de ir, eles mandaram um fax com alguns itens
que nós teríamos que responder, o fax estava meio apagado
e falava em relatório, eu peguei aquilo e disse: ON: Qual exatamente sua função no Jardim Botânico do Rio de Janeiro? O que é ser o curador de coleções vivas? O que é exatamente isto? Cláudio:
Esta curadoria no Jardim Botânico já existiu há um
tempo atrás. Quando a direção do Jardim Botânico
foi ao Museu Mello Leitão para fazer a avaliação,
eles verificaram que nós tínhamos organizado a coleção
viva, com um levantamento completo da procedência das plantas, em
um ano, com a ajuda dos estagiários. ON: Muitas vezes a pessoa resolve a pesquisa, mas não resolve este lado burocrático. Cláudio:
Então acho que isto fez eu vir para o Rio. ON: Está havendo este choque do público com a saúde da planta? Cláudio: Sempre há. É muito complicado. No Museu Mello Leitão são 7 hectares com 3 e meio hectares visitados. Aqui são 50 e tantos hectares visitados e cultivados. São cerca de 600.000 visitantes por ano dos quais 300.000 geram roleta efetiva para o Jardim Botânico. Os outros são aqueles que passam na roleta sem pagar a entrada. São escolas, alunos, outros que têm o desconto, têm a roleta livre. ON: Sócios... Cláudio: Sócios, como os sócios da Sociedade de Amigos do Jardim Botânico ON: Então, o sócio não é uma boa para o Jardim Botânico? Cláudio:
Não, o sócio não é uma boa para o Jardim Botânico.
O sócio paga uma anuidade de R$ 90,00 e pode entrar qualquer pessoa
da família, incluindo a babá que leva as crianças.
R$ 90,00 não dá um mês se a pessoa for todo dia. |
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Inventário
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73
taxa com 71 espécies, 2 híbridos naturais em 41 gêneros
e um híbrido intergenérico
(Em negrito, citação nova para o Estado do Espírito Santo) |
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01-
Beadlea elegans (Hoehne) Garay (Cyclopogon elegans Hoehne) |
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Espécies
em comum com as restingas do Rio de Janeiro
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| 01-
Brassavola tuberculata Hook. (Brassavola perrini (Rchb. f.) Lindl. 02- Campylocentrum micranthum (Lindl.) Rolfe 03- Catasetum discolor Lindl. 04- Catasetum luridum (Link) Lindl. 05- Cattleya guttata Lindl. 06- Cattleya harrisoniana Bateman 07- Cyrtopodium polyphyllum (Vell.) Pabst ex F. Barros (Cyrtopodium paranaense Schltr.) 08- Dryadella obrieniana (Rolfe) Luer 09- Eletroplectris calcarata (Sw.) Goray & Sweet 10- Eletroplectris triloba (Lindl.) Pabst 11- Epidendrum denticulatum Barb. Rodr. 12- Epidendrum rigidum Jacq. 13- Habenaria leptoceras Hook. (Habenaria armondiana Hoehne) 14- Habenaria parviflora Lindl. (Cabo Frio e outras) 15- Habenaria repens Nutt. (Habenaria taubertiana Cogn.) 16- Oeceoclades maculata (Lindl.) Lindl. 17- Oncidium ciliatum Lindl. 18- Pleurothallis ramphastorhyncha (Barb. Rodr.) Cogn. 19- Pleurothallis saundersiana Rchb. f. 20- Prescottia oligantha (Sw.) Lindl. (Prescottia micrantha Lindl. ) 21- Prescottia plantaginea Lindl. 22- Prescottia stachyoides (Sw.) Lindl. 23- Sacoila lanceolata (Aubl.) Garay 24- Vanilla bahiana Hoehne 25- Vanilla chamissonis Kl. var. brevifolia Cogn. |