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Lou, recentemente foi lançado o seu tão esperado trabalho no formato de CD: "Gênero Cyrtopodium, Espécies Brasileiras". Você poderia nos falar sobre a pesquisa feita, tempo gasto, os habitats visitados, as espécies que você descobriu, enfim, contar um pouco da história deste levantamento?
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Foi uma luta grande mas, em contrapartida, as facilidades de cultivo em Brasília são enormes porque o Cyrtopodium, em sua maioria, é justamente originário de área seca, com baixa umidade e do cerrado. Aos poucos, fui montando um acervo e, morando aqui, pude fazer um cultivo do lado de fora do orquidário do IBAMA como se eles se encontrassem na própria natureza, sem problemas, com boas florações. | ![]() |
Numa destas áreas pesquisadas, eu mostrei uma destas fotos a um senhor humilde que tinha algumas orquídeas, uma paixão enorme por elas e, o mais interessante, tinha um olho aguçado. Ele prontamente disse que achava interessante pois havia muito por lá mas que a flor não saiu daquela maneira, da base do pseudobulbo, e sim da ponta dele. Eu respondi que não podia ser pois uma das características botânicas deste gênero é a inflorescência basal, ela sai da base do pseudobulbo e sobe. Ele insistiu que saía da ponta e eu fiquei achando que ele estava confundindo com outro gênero de orquídea. Qual não foi minha surpresa quando, no ano seguinte, eu encontrei por duas vezes, na Paraíba, no litoral, exatamente aquela mesma ocorrência. O Cyrtopodium paranaense florindo a partir da ponta do pseudobulbo. Isto está muito bem fotografado, muito bem registrado. Vai ser uma página do livro, mostrando que isto, evidentemente, deve ser um problema de instabilidade genética, porque se a inflorescência é sempre basal e, de repente, ela sai na ponta, é, digamos assim, uma aberração genética. É interessante dedicar uma página inteira do livro para mostrar esta fantástica ocorrência pois nunca vi nenhuma referência, em nenhum lugar sobre ela.
Tive que refazer publicações porque havia erros na identificação da variedade. Por exemplo, eu tinha descrito uma variedade para Cyrtopodium vernum erradamente, era uma variedade de outra espécie porque as informações estavam trocadas. Mesmo as pessoas que entendiam um pouquinho mais de Cyrtopodium confundiam, às vezes, as duas espécies. No começo andei seguindo algumas indicações de alguns orquidófilos esclarecidos e me dei mal. A partir daí eu fiquei extremamente cautelosa. Não quis mais saber de nada, só acreditei em mim e nas fontes bibliográficas, assim mesmo algumas eram incorretas.
Vou dar um exemplo, Hoehne cita o Cyrtopodium bradei sem dizer onde foi descrito e nem onde o material foi depositado. Eu fiquei enlouquecida com este Cyrtopodium e me perguntava onde poderia estar a descrição original. Depois de uma luta titânica, eu descobri. Aquele nome tinha sido dado mas não tinha sido registrado e que na verdade, anos depois, Pabst descreveu o Cyrtopodium bradei, sem saber que se tratava dele, como Cyrtopodium hatschbachii. Eu, casualmente, o encontrei perto de Brasília, numa área alagada. Foi uma felicidade enorme mas levou muitos anos para isto acontecer.
A minha sorte é que eu viajo muito e tenho, em cada ponto, pessoas ligadas ao meu trabalho e eu pedia para ficarem de olho em Cyrtopodium. Um dia, uma amiga de Vitória da Conquista, na Bahia, me ligou dizendo que achava que havia encontrado o Cyrtopodium florindo em Rio de Pontas, na Chapada de Diamantina e que, pela foto, parecia ser o aliciae. No dia seguinte eu peguei um avião, fui para lá e pude constatar que era ele realmente. Uma felicidade enorme porque eu levei anos procurando e finalmente tinha encontrado. Foi fantástico. Ele estava lá na Bahia, lindíssimo. Exatamente, perfeitamente igual à prancha da Lindenia. Como são importantes estas pranchas.