"Pedro Nehring é reconhecido mundialmente pela vastidão, amplitude e escala com que elaborava seus projetos, marcados pela harmoniosa convivência entre as variadas espécies escolhidas por ele. Folhas, troncos, raízes e folhas de diferentes tamanhos, texturas e formas cuidadosamente elaboradas em sua cabeça como um verdadeiro autocad vivo, organizando mentalmente seus trabalhos ao mesmo tempo que os realiza.
Em seus trabalhos percebe-se uma identidade paisagística. Ele montava cada jardim como se fosse único, sempre no sentido de fazer um jardim com exuberância, mas com uma certa espontaneidade.
Ele coordenava todo o processo, desde a retirada de um pequeno mato até a colocação de uma palmeira de 25 metros de altura e de uma pedra de 5 toneladas, alternando os ângulos e inclinações, mesmo depois de instaladas. A escala é imensa, mas o detalhismo na composição da paisagem é igualmente proporcional, com profundidade de cores e de movimento.
Nascido em Teresópolis, Pedro era autodidata e sofreu influência de seu pai, José Afonso Vilela César.
Trabalhou no Inhotim por quase 40 anos, desde a década de 80 com alguns intervalos.
Lá, uma das principais preocupações de Pedro Nehring sempre foi a de criar uma caminhada agradável ao longo dos jardins de maneira que os visitantes pudessem entender as paisagens como uma narrativa, a fim de que experimentassem e observassem a diversidade genética da flora nativa e exótica. Depois de ter realizado paisagismo nos anos iniciais da fazenda de Bernardo Paz, que posteriormente se tornaria Inhotim, Pedro rodou o País, principalmente pelo Sudeste, Sul e Bahia. Até que, em 2010, três anos após a abertura oficial de Inhotim, ele retornou a Brumadinho ao ser convocado novamente para dar sentido à paisagem, que era expandida sucessivamente para recuperar a identidade visual e ambiental do espaço estava se perdendo.
O trabalho realizado por Pedro Nehring em Inhotim é, sem dúvida, o mais representativo da carreira dele. No entanto, o paisagista também atuou em centenas de projetos em dezenas de cidades brasileiras, distribuídas por nove estados (Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina e São Paulo), além do Distrito Federal. No Rio de Janeiro, a partir de 1975, Nehring trabalhou para diversas construtoras em obras na capital fluminense, em Búzios e em Itaipava. No Mato Grosso do Sul, Nehring morou de 1980 a 1983, realizando obras públicas e privadas em fazendas. Em Belo Horizonte, realizou projetos paisagísticos em casas. Uma das mais conhecidas é de um dono de uma empresa de aluguel de veículos, em um bairro na região Sul, em 1985. Ainda na capital mineira, também trabalhou no Departamento de Parques e Jardins, em 1984/85, quando atuou na arborização das avenida Cristiano Machado e no projeto paisagístico do Museu Abílio Barreto, a principal instituição cultural/ histórica que cuida da memória de Belo Horizonte. Em São Paulo, a partir da década de 1990, Pedro fez várias obras paisagísticas em parceria com o arquiteto Marcos Tomanik, principalmente em residências, haras e fazendas. No Rio de Janeiro, a partir da década de 1970, ele realizou diversos trabalhos em obras na capital fluminense; em Itaipava, na Serra de Petrópolis; e em Búzios, um dos balneários mais badalados do litoral fluminense. Além disso, elaborou e realizou o projeto paisagístico da Casa da Itália, no clube Costa Brava, durante os Jogos Olímpicos de 2016.
Construir um jardim com diversidade botânica envolve, principalmente, conhecimento e acesso às plantas. Por isso, ao longo da carreira, Pedro Nehring não apenas pesquisou muito, como também se tornou um catador de sementes em todas, sim, todas as viagens que fazia, fosse sozinho, fosse com a família".
Extrato de textos de Bruno Moreno
Por meio de nota, o Instituto Inhotim lamentou a morte do paisagista, destacando que ele "buscava compreender e, principalmente, refletir os ciclos do ano na materialização dos seus projetos".
“O Jardim Veredas (outro projeto de Nehring), e todos os seus projetos no Inhotim, são frutos de observações periódicas, conhecimento ímpar sobre os ciclos das plantas e de percepção do tempo da natureza”, diz a nota.
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