por Delfina de Araujo



 
Tribo: Cymbidieae
Subtribo: Cyrtopodiinae
Etimologia: Com aspecto de ou semelhança com o gênero Eria. Opsis de origem grega quer dizer aparência, semelhança.
Sinônimo: Pseudoeriopsis Rcbh. f (l849)
Espécies consideradas válidas: Eriopsis biloba e Eriopsis sceptrum
Ocorrência no Brasil: Ambas.

  Este gênero foi descrito por Lindley em l847 e está presente desde a Costa Rica até o Brasil e Peru.
Embora existam cerca de doze descrições diferentes, apenas duas espécies são consideradas válidas atualmente: Eriopsis biloba e Eriopsis sceptrum, sendo a primeira terrestre e rupícola e a segunda, epífita.
G. F. Pabst & F. Dungs (em Orchidaceae Brasiliensis) consideraram ambas como epífitas e também como pertencentes à província 2 ou seja, ocorrendo a nível do mar. No entanto, os registros de coleta não confirmam a informação de que Eriopsis biloba ocorra a este nível e nem que seja epífita. Recentemente, João Batista F. da Silva, em suas pesquisas pela região amazônica, teve a oportunidade de documentar diversas ocorrências destas espécies sendo a Eriopsis biloba sempre em altitude e a Eriopsis sceptrum do nível do mar até 150m de altitude.
Este gênero possui pseudobulbos alongados e lisos, geralmente ocos por dentro. As pétalas e sépalas variam em tons de amarelo com sombreados de castanho-avermelhado nas margens. Tem o labelo carinado em sentido longitudinal e dois cornos no disco. Racimo emergindo das axilas dos pseudobulbos de ambos os lados, laxamente multiflora com flores medianas, vistosas, pediceladas e com brácteas relativamente pequenas.
Com relação ao cultivo, F. C. Hoehne diz em "Flora Brasilica Fasc. 10 Vol. XII, VII":
...planta muito robusta mas com requisitos especiais para poder ser cultivada nos climas mais frios.”. No entanto, pelos relatos mais recentes, podemos concluir que a Eriopsis biloba necessita de clima temperado para frio e a Eriopsis sceptrum de clima mais quente ou temperado.
Ambas as espécies podem ser cultivadas em locais sombreados ou receber uma luminosidade mais elevada, mas necessitam de proteção para que suas raízes não recebam insolação.
Necessitam de umidade ambiental elevada e, especialmente, até que seus pseudobulbos estejam completamente desenvolvidos e suas raízes devem estar sempre úmidas.



 
  Eriopsis biloba Lindley foi descrita em l847, a partir de uma planta coletada no Peru.
Ocorre na Belize, Costa Rica, Colômbia, Guianas, Honduras, Equador, Nicarágua, Panamá, Peru, Venezuela e no Brasil (nos estados do Amazonas e Roraima). Supõe-se que ocorra também no Pará.
Esta planta está presente em diferentes faixas de altitude: na Colômbia, já foi encontrada a 125 m e 1.310m.; no Belize, de 500 a 600m.; na Venezuela, a 700 m, de 900 a 1000 m, a 1550 m e de 1750 a 1850 m.; na Costa Rica, a 400m.; no Panamá, de 800 a 1000m.
João Batista F. da Silva, em seu artigo: "Viajando pela Amazônia – II . Serra do Surucucu e Cordilheira Parima" (revista Caob) e em entrevista dada por telefone, confirma a ocorrência desta planta no Monte Caburaí e na Serra Surucucu, em Roraima e informa que é fácil diferenciar esta espécie da Eriopsis sceptrum, que ocorre nos igapós dos rios do Estado do Amazonas, por não emitir raízes secundárias aéreas.
Ele a encontrou vegetando rupícola em rocha, em locais com vegetação baixa, em altitude variando de 1.100 a 1500 m, no Monte Caburaí.
Encontrou-a também em clareira, portanto em local mais aberto, com maior insolação, sempre em terreno alagado, encharcado e até mesmo vegetando na lama.
Foto/Photo -  Sergio Araujo
  No entanto, no monte Parima vegeta sobre terreno muito seco.
Na Serra do Surucucu, em Roraima, verificou a ocorrência sobre rochas, mas em local sombreado, dentro das moitas e em vegetação aberta, mas à sombra dos arbustos, rodeada de Clúsias, de Melatosmatáceas.
Em qualquer hipótese, a raiz nunca recebe insolação, está sempre bem protegida. Em locais em que a luminosidade é mais intensa, a umidade também é mais elevada. A ocorrência desta espécie em território brasileiro é mais rara sobretudo se comparada com outra espécie que tem uma distribuição mais ampla.
  Foto/Photo -  Sergio Araujo Seus pseudobulbos são robustos e oblongo-cônicos variando de 15 a 20cm de altura e com diâmetro de 3 a 6cm.
Apresenta duas folhas de 20 a 30cm de comprimento por 4 a 6cm de largura que nascem da extremidade do pseudobulbo. Sua inflorescência é ereta e possui de 40 a 60cm de comprimento, nascendo da base do pseudobulbo e apresentando brácteas pequenas.
Seu período de floração vai de dezembro até agosto. Suas flores têm segmentos distendidos e as sépalas e pétalas variam de amarelo alaranjado até amarelo amarronzado, sombreados de castanho avermelhado nas margens. Seu perfume lembra o do melão. As sépalas têm de 11 a 14mm de comprimento por 5-6mm de largura e as pétalas variam de 10 a 13mm de comprimento por 3.5-4.5mm de largura.
  O labelo é branco, pintalgado de marrom e marrom escuro em sua base e é um pouco mais curto do que as sépalas laterais sendo mais largo do que longo (10-12 x 13-16mm).

Sinônimos:
Eriopsis colombiana Schltr.
Eriopsis fuerstembergii Krzl.
Eriopsis grandibulbosa Ames & Schweinf.
Eriopsis mesae Krzl.
Eriopsis rutidobulbon Lem.
Eriopsis schomburgkii Rchb. f.
Eriopsis wercklei Schltr.
Pseuderiopsis schomburgkii Rchb. f.





 
  Foi descrita em l854 e, em l861, Rchb. f a descreveu novamente com nome de Eriopsis sprucei. Ocorre no Equador, Guianas Peru, Venezuela, no Brasil no estado de Amazonas e Roraima.
É encontrada desde 80 até 470m na Venezuela. No Equador, a 190 m e 265 m. No Brasil, de 40 a 150m.
  F. C. Hoehne.  Reprodução de Iconografia de Orchidaceas do Brasil Planta muito robusta, formando touceiras de meio metro de diâmetro. Seus pseudobulbos têm 20-25cm de altura por 3-6cm de diâmetro. Produz, em geral, 2 folhas, mas pode também produzir 4, de 40 a 70cm de comprimento por 4.5-6cm de largura. Possui uma massa de raízes pneumatóforas, isto é, pontas eretas, aguçadas e esponjosas. Lança inflorescência ereta (racimo) de 50 a 80cm de altura. Sua sépala dorsal tem entre 14 e 15mm de comprimento por 6mm de largura, as laterais são um pouco menores com 12-14mm por 7mm de largura. Suas pétalas têm de 12 a 13mm de comprimento por 5-5,5mm de largura. Apresenta flores na cor amarelo-limão e sombreadas de vermelho nas margens. Possui o labelo tão largo quanto longo (11-12mm x 11-12mm ou 12-13 mm x 12-13mm), pintalgado de roxo-coeruleo e branco.
João Batista documentou a ocorrência no Lago de Tefé (Amazonas, próximo ao rio Solimões).
Nas margens do rio Japurá encontrou árvores com milhares de plantas e também próximo a Manaus, em altitude em torno de 40m.
Às margens do rio Aracá, encontrou grandes touceiras. Às margens do rio Yauapery, em Roraima, em altitude um pouco mais elevada, em
  torno de 130, 150m. Às margens deste rio, Barbosa Rodrigues encontrou esta planta e a descreveu como Cyrtopodium yauaperyense.
F. C. Hoehne (em Iconografia de Orchidaceas do Brasil) descreve a viagem que fez em direção à Santarém e depois Belém, subindo o rio Tapajós e fala desta planta dizendo que em ‘troncos idosos, das bordas das baias e lagoas, surgem enormes touceiras de Eriopsis sprucei (sinônimo)”. No entanto, literatura mais recente não indica este último estado como seu habitat.
João Batista F. da Silva, em seu artigo "Viajando pela Amazônia. I. Rio Aracá (AM)", diz: ”...que quanto mais se sobe o rio, maior é a concentração de orquídeas, como as grandes touceiras de Eriopsis sceptrum... No mês de abril inicia o período de cheia, em maio a inundação penetra na floresta de igapó e de junho a agosto, quando o rio está na cota máxima de cheia, os tapiris (casebres) construídos nas margens, ficam totalmente cobertos pelas águas, inabitáveis...
Assim como a precedente, ocorre sempre em locais de umidade muito elevada.

Sinônimos:
Cyrtopodium yauaperyense Barb. Rodr.
Eriopsis helenae Krzl
Eriopsis sprucei Rchb. f.



 

Bibliografia:
- G. F. Pabst & F. Dungs - Orchidaceae Brasiliensis -Alemanha, l977, Vol. II.
- F. C. Hoehne – Iconografia de Orchidaceas do Brasil (páginas 94, l63, 183, 218)
- F. C. Hoehne – Flora Brasilica Fasc. 10 Vol. XII, VII: 115-147 (pag 64-
- The Illustrated Encyclopaedia of Orchids, edited by Alec Pridgeon (páginas 129-130)
  Botanical Garden
- João Batista F. Da Silva - Viajando pela Amazônia – I. Rio Aracá – Boletim Caob 26 – Out/Nov/Dez   96 páginas 5 a 8
- João Batista F. Da Silva - Viajando pela Amazônia – II. Serra do Surucucu e Cordilheira Parima –   boletim Caob 28– abr/mai/jun l997, páginas 36 a 43.



Especiais agradecimento a João Batista F. da Silva (pesquisador) pela informações concedidas a respeito destas espécies, em entrevista por telefone.
Fotos: Sergio Araujo
Ilustração: F. C. Hoehne


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